quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Doações à igreja não foram para caridade
Segundo a denúncia da promotoria, as doações de fiéis, que deveriam financiar obras de caridade, tiveram outro destino na Igreja Universal. Edir Macedo e os acusados teriam enriquecido ilicitamente.
"É MUITO FINGIMENTO USANDO O NOME DE DEUS"

Em templos e igrejas de praticamente todas as religiões, o pedido de dinheiro é um procedimento comum. Com doações de fiéis, são financiadas as obras de caridade. Mas, segundo a denúncia da promotoria, Edir Macedo deu outro destino ao dinheiro doado à Igreja Universal. Uma visita a cultos da Igreja Universal do Reino de Deus ilustra o que a denúncia descreve. “E você vai apresentar neste altar o teu sacrifício, que é de R$ 100 mil, que é de R$ 50 mil, de R$ 30 mil, de R$ 20 mil, de R$ 10 mil. Eu vou me desfazer daquela casa que eu tenho, daquele carro ou daquele apartamento, ou do que eu tenho. Eu vou colocar os R$ 10 mil no altar, eu vou tirar da minha poupança, mas como sacrifício será válido, meu Deus!” Não haveria nenhuma ilegalidade na coleta de doações, se o destino dos recursos fosse outro. Os promotores lembram na denúncia que a Constituição Federal inclusive determina que igrejas não paguem impostos, para que o dinheiro das ofertas possa ser integralmente aplicado em assistência social e na manutenção dos templos onde a fé é praticada. O que a denúncia contra Edir Macedo atesta é que ele e outros acusados vêm tirando dinheiro dos fiéis não para investir na igreja ou em assistência social. Mas para enriquecer ilicitamente. “Eu tenho fé pra dar meu carro agora, já pega a chave, documento, preenche seu papel, diga, ô meu Deus, eu colocando aqui no teu altar”.
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Estas imagens foram gravadas três anos atrás, em Porto Alegre. A RBS, afiliada da TV Globo, registrou a maneira como os pastores agem. Segundo a denúncia, eles seguem ordens de Edir Macedo. E são avaliados principalmente pela capacidade de recolher dinheiro. Recursos que depois são desviados para empresas, o que foge do propósito de assistência social e religiosa de uma igreja.
- Que o menor dízimo seja R$ 1 mil, em nome de Jesus! - Se você vai ser fiel realmente, diga, meu Deus! Eu vou ser fiel! - Eu vou ser fiel. - Em devolver. - Em devolver. - Dez por cento. - Dez por cento. - De tudo o que vier. - De tudo o que vier. - Em minha mãos. - Em minhas mãos. - Nesta semana. - Nesta semana. Para os promotores ficou claro que, sob o comando de Edir Macedo, os pastores não se contentam com o dízimo, os 10% do salário. O objetivo é arrecadar sempre mais, desviar o dinheiro e fazer fortuna particular às custas da igreja. “E você vai pegar o que você tem e você vai colocar no altar. Então, pega o que você tem, pro teu sustento, pega aqui e deixa aqui pra Deus. Hoje é tudo ou nada. Em nome do senhor Jesus!”. A denúncia afirma que as doações serviram para comprar bens e empresas, o que lesou os fiéis e a própria igreja. Um homem já frequentou a Igreja Universal. Ele falou em 2006 para a RBS. E disse que fez doações, enganado por pastores que agem em nome de Edir Macedo. “Eu comecei com R$ 50, depois dei R$ 100, depois dei R$ 1 mil, depois R$ 2 mil, outra vez. Dei R$ 5 mil e aí foi indo, vendi geladeira, freezer, microondas. Porque eles incentivam a gente a não dar valor a coisas materiais. O que importa é estar com o coração limpo”, disse o homem. Ele diz que chegou a ser obreiro, um auxiliar da igreja. E, assim, participou de fogueiras santas de Israel, as campanhas para aumentar a arrecadação. E conta que, nas cerimônias, pastores usavam um falso óleo santo para induzir os fiéis a doar. “O óleo santo de Israel, eles diziam. E eu acreditava, até o dia que eu fui comprar. Não, compra qualquer óleo, nós ia lá e comprava lata de óleo e botava nos vidrinhos, como se fosse óleo santo de Israel. Aí as pessoas ficam comovidas e ofertam”, contou. Entre antigos seguidores que se apresentaram à Justiça como vítimas iludidas por promessas milagrosas, está um morador de Minas Gerais. Ele sofre de uma doença mental. E, em troca de doações para a igreja, recebeu a chave do céu e um diploma, assinado por Jesus Cristo. Mais uma evidência mostrada na denúncia de que os acusados se afastaram dos propósitos da religião. Como nas imagens registradas em Brasília, em 2005, que mostram a pilha de reais apreendida num avião fretado pela Universal. Ou ainda no flagrante feito em Nova York, dez anos antes. É o retrato da satisfação do fundador da igreja diante da generosidade dos americanos. Com suas doações em dólar.

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