quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Globalização e Desigualdade


“Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.” George Owell


Diante de tanta tecnologia, facilidade e conforto os quais nos oferecem, classe privilegiada, desigualdade é um aspecto da globalização que poucos querem ouvir. Muitos preferem vedar seus olhos e, num faz-de-conta pitoresco, imaginar que ela só traz benefícios à humanidade. Nietzsche indagava: “Quanta verdade consegues suportar?” É mais fácil desconsiderar o grande dilema deste processo: ao mesmo tempo em que dá, ela nos tira. Ao mesmo tempo em que a poucos de nós oferece comodidade, priva a maioria dos homens do direito à liberdade e autonomia.

Se outrora presenciamos desigualdades advindas de explorações coloniais, escravidão, patriarcalismo, hoje nos tornamos fantoches de uma hierarquia globalizante extremamente injusta e exclusiva. Em tempo não tão remoto, vivemos em época de apartheid e uma espécie de “neoescravidão” comum nas plantations. Isto não significa, contudo, que tais práticas estão extintas. Apenas se transfiguraram e se adaptaram à espiral globacional.

Atualmente, a desigualdade deixou de ser meramente local e estendeu seu âmbito de atuação às relações entre países. O mundo subdesenvolvido, hoje, é encarado como subterfúgio para os problemas socioeconômicos das nações globalizantes. Na América Latina, por exemplo, a desigualdade extraordinária se faz presente entre os 30% mais pobres, que recebem (relativamente) menos do que seus pares na África ou em qualquer outro lugar, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Em uma perspectiva ainda mais geral, a desigualdade econômica medida em termos de PIB per capita internacional tem aumentado quase constantemente nos últimos 200 anos. Pelo visto, o entrelaçamento global tem sido mais frouxo para um dos lados. Os fenômenos de multiculturalismo provocaram segmentação; os de tecnologia, exclusão. Se em épocas de Revolução Industrial, no século XVIII, foi necessária a aprendizagem do manuseio das máquinas, hoje é de extrema importância a qualificação no tocante aos meios de comunicação, informática, línguas, Internet e o conhecimento em geral.

Agora, não menos importante do que “ter” é “saber” - o conhecimento e sua aquisição passam a ser foco de uma corrida tecnológica que se aprimora constantemente, redimensionando-se em ritmo alucinante. Defensores da “Sociedade da Informação” afirmam que ela ofereceria possibilidade de maior democratização das relações socioeconômicas e intersociais. Contudo, vemo-nos diante de um inquietante paradoxo: Como sustentar igualitariamente uma sociedade em que a informação e o conhecimento são privilégios concedidos à minoria?

Ademais, a questão do acesso à educação contraria os interesses de muitos que detém o poder. Logicamente, é mais fácil manipular e controlar uma sociedade leiga e desinformada. Segundo Göran Therborn, a globalização e a desigualdade são duas encruzilhadas das ciências e filosofias sociais – de fato, podemos comprovar tal afirmação se observarmos o cenário geopolítico e o paradigma da pós-modernidade.

Seria a globalização a grande culpada deste abismo social? É notável que a difusão do conhecimento médico e agrícola aponta para uma diretriz equalizadora; as outras faces dela, entretanto, nos direcionam a um precipício e põem poucos em um pedestal.

Todavia, a globalização não é a fonte de todos os males – a ela não podemos atribuir culpa por disfunções estruturais e conjunturais decorrentes de políticas nacionais mal desenhadas ou de escolhas equivocadas por parte do povo e de seus governantes. As desigualdades são frutos híbridos de muitos fatores holísticos – a globalização é, por mais que contribua exponencialmente, apenas mais um deles.

Um comentário:

  1. Dar os devidos créditos aos textos é o mínimo de ética que podemos ter no meio acadêmico.

    Abre o olho, garota!

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